segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Genealogia da Moral

O Livro “A Genealogia da Moral” revela um momento bem maduro de Nietzsche (foi escrito em 1887) e discorre sobre as origens da moral moderna. Separado em três tratados: 1º - “Bem e Mal”-“Bom e Mau”, 2º-“Falta”, “Má Consciência” e Fenômenos Coligados e 3º-“Que significam os ideais ascéticos?”, o livro busca investigar as origens da moral tendo como pano de fundo o contexto histórico no qual surgiu e as modificações que sofreu através dos tempos. No 1º tratado, Nietzsche busca as raízes etimológicas dos conceitos de bom e mau em várias línguas, e imagina o contexto em que surgiram, afirma que seriam primeiramente características próprias da nobreza, que as classes inferiores tentariam copiar, por isto as tachando de “boas” e com o advento do cristianismo, que prega que o bom é aquilo que é pobre, simples e sem força, esta moral teria se invertido. Refuta também a visão de que estes conceitos foram ensinados ao povo por sua utilidade, e afirma que surgiram pela influência de povos dominadores sobre povos dominados.
No 2º tratado, Nietzsche busca a raiz também histórica do pecado, e afirma que a figura do deus de todas as sociedades primitivas se baseava em uma figura histórica que teria fundado tal sociedade (e por extensão o mundo e o universo) e que as gerações posteriores deveriam agradecê-lo sempre em forma de rituais e sacrifícios, e daí teria surgido o sentimento de falta para com o deus fundador, a má consciência advém também deste sentimento de falta. Também investiga a figura do credor e devedor, afirmando que o credor tinha nas mãos inclusive a própria vida do devedor, podendo agir com ele da forma como bem entendesse. O sentimento de falta e má consciência, portanto, sempre foi próprio dos pobres e fracos no geral. Com o advento do cristianismo, esta lógica se subverteu, pois neste caso deus se sacrifica em sua própria honra, agradecimento e pagamento da própria dívida, como Cristo, a dívida dos pobres foi paga.

E no 3º tratado, o maior do livro, Nietzsche analisa os ideais de ascese e o que estes significariam, sem deixar de lado o ponto de vista histórico, porém desta vez o compara com a própria sociedade em que vivia (Europa, séc. XIX), os ideais de castidade, isolamento social e espiritualidade transcendente que desde sempre caracterizaram os monges e sacerdotes. Começa analisando o porquê de o compositor Richard Wagner ter se tornado um asceta; afirma que os ideais de ascese nada têm a ver com a arte, pois a arte é mentira e se orgulha de sê-lo, não tem um fim definido, e não segue um ideário próprio, ao contrário da ascese, que tem como base e como fim um “ideal” seja ele “Deus” (religião) ou a “verdade” (filosofia e ciência), coisas ambas que Nietzsche afirma não existirem. Ele relega a origem dos ascetas à necessidade das classes inferiores de moverem seu ressentimento, seu ódio, seu sofrimento e seu tédio para uma causa e para um fim, daí surge a figura do sacerdote, que dirige todos estes baixos sentimentos da população para uma causa além do terreno e do palpável, aliviando assim, o sofrimento das pessoas. Afirma ainda que, longe da ciência e da filosofia serem as contra-partidárias deste ideal, são elas sim a afirmação atual mais fiel destes ideais, pois também filosofia e ciência se baseiam em teorias e dogmas, estão também comprometidas com a verdade e seus “sacerdotes” buscam a origem do sofrimento em causas que não são diretamente relacionadas com a vida real, assim como os sacerdotes ascetas.






Ressentimento
Homem essencialmente: medido, julgado, escravo

Declínio dos juízos de valor aristocráticos, ganha força a lógica de rebanho, se eu não posso, você não pode. Democracia obriga todos a serem iguais.

Designa-se bom quem é fraco: humilde, frágil, compassivo, piedoso.
Designa-se ruim quem é forte: criativo, crítico, responsável por sua vida.

A compaixão segue assim:
O fraco se sente superior quando age para ajudar o outro, o que o torna ser do rebanho onde se dá uma ilusão de poder, cada ação no fundo é uma reação.
o sacerdote tem que ser fraco e forte para liderar o rabanho. O problema é quando o forte é influenciado pelo rebanho, impelido a cuidar do fraco. Aí se vê o ideal-ascético como o idela onde as aves de rapina podem manipular o rebanho. Homens ressentidos são facilmente manipulados, não conseguem viver sem um sentido isso é evidente na terceira dissertação, Nietzsche no fim da obra fala " o homem preferirá ainda querer o nada a nada querer".

Deus no ideal ascético é meramente uma fuga e um pretexto para manter sob controle o rebanho. Para isso cria-se a culpa, o pecado, o sacerdote retira a "culpa" do outro e coloca no próprio "sofredor" fazendo assim dele o pecador, mesmo este pecador sendo "curado" o sacerdote ainda o deixa sob controle através do temor.

O que significam ideais ascéticos?

Nesta meditação Nietzsche demonstra como se deu esse ideal em vários meios. O ideal ascético para ele visa principalmente submeter o Homem a uma cultura de negação a vida, onde os fracos se unem e são manipulados pelos sacerdotes ascéticos e pela própria cultura ascética que permeia até hoje.
Para ele Homens justos, fortes são os que fazem uma "digestão" das vida, ou seja, aquele que suporta os obstáculos e opções vivenciadas durante a vida mesmo que duras de se "engolir". Os fracos são aqueles que temem a vida, o devir, a morte, os sentidos, que se aglomeram para anestesiar a dor e o sofrimento. Os sacerdotes se utilizam desse sofrimento para liderar e controlar o 'rebanho'. através da culpa, antes colocada no outro, ele desvia o sofrimento e coloca ela (culpa) no próprio doente, parte daí para a cura onde o sacerdote deixa um veneno na ferida pra depois curar e assim o efeito degenerativo onde o doente fica mais doente. O forte agora tido como o pecador, o errado é influenciado a cuidar dos fracos tornando-se um doente.
Nietzsche diz que a ciência é também um artifício de afirmação do ideal ascético. Ela precisa de uma preconceito de uma filosofia ou religião ou algo do tipo como ponto de partida para assim se formar e dar ao doente uma outra forma de se anestesia da dor.
O ideal ascético significa algo que falta ao homem e esta lacuna era a resposta a pergunta "para que sofrer?", O Ideal Ascético dá um sentido para esse sofrimento através da culpa, do pecado, do ressentimento e da redenção.
Por fim o homem tem vontade de nada, uma aversão a vida porém é uma vontade. Nietzsche termina por dizer " O homem preferirá ainda querer o nada a nada querer..."

Ideal ascético


> nega a vida pois afirma que esta vida na terra e um erro a vida eterna no outro mundo é a vida que devemos seguir e nos preocupar.


> se utiliza do sofrimento dos mais fracos para manipular e consólidar a supremacia da doença que é a fraqueza do homem enquanto confrontador da vida e agente ativo dela.


> utilizando artifícios como: a ciência, a religião, o deus eas filosofias para se manter no poder de manipular os rebanhos e subjugar os fortes, invertendo valores.


> saciando o desejo dos fracos de uma justificativa para o seus atos e os deixando mais e mais doentes através da punição dos pecadores e da busca pela redenção.

15 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. É preciso tomar cuidado com o conceito de asceta em Nietzsche, já que não é todo asceta que parece negar a vida, assim como ele mesmo observa quando comenta a obra de Schopenhauer em sua Terceira Consideração Intempestiva. A crítica ao asceta se dirige à todo aquele que nega a vontade de potência e portanto a vida.

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  3. Em Nietzsche o ideal ascético não se trata exclusivamente daqueles preceitos advindos da religião, mas, sobretudo, na não aceitação do prazer e das conquistas humanas impulsionadas pelo desejo natural. Repudiando essa vontade de auto-aperfeiçoamento, o asceta seria aquele motivado pela mágoa ante os que não sentem receio em efetivar suas vontades e isso é o mal da vida: sentir repugnância pelos que se deram bem, pelos que agem sem escrúpulos, só por não aceitar a própria insignificância. A negação da vida é na verdade a negação do mundo presente, desse mundo em que vivemos e achar que é pelo sofrimento que se obterá a pseudosalvação espiritual.

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  4. *** JÔZIANE DE ARAUJO

    O ideal ascético significa a busca das condições favoráveis para o poder, a lei vigente prevalece o mas forte sempre ganha e o mais fraco nega a vida. Afirma-se nessa sociedade a existência no ideal ascético.

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  5. Para Nietzsche a concepção de um ideal ascético como negação das paixões humanas está ligada a toda tradição a qual fora erguida os valores morais da sociedade ocidental, o cristianismo, pois esse fora interpretado pelos sacerdotes como uma forma de dominação do homem, o homem fora habituado com o tempo a dominar a si mesmo, a voltar-se para si e controlar suas vontades humanas, aprendeu a negar as suas paixões.

    Cláudia Falcão

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  6. O que me chamou a atenção, assim como muitos aqui, é o conceito de ascetismo pra Nietzsche. Ele pauta a origem dos ascetas na necessidade das classes mais baixas moverem seu ressentimento, ódio, sofrimento e tédio para uma causa e para um fim. Aí surge a figura do sacerdote, que dirige estes sentimentos da população para uma causa além do terreno e do palpável, aliviando assim, o sofrimento das pessoas.

    Irônico é que a filosofia também se baseia em teorias e dogmas, comprometida com a verdade. Seus “sacerdotes” (os filósofos) buscam a origem do sofrimento em causas que não são diretamente relacionadas com a vida real, assim como os sacerdotes ascetas.

    Olegário

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  7. Francisco Iran

    O pensamento de Nietzsche, presente em seu ideal ascético, ecoa até os nossos dias, visto que, em nossa sociedade ainda vigora a lei do mais forte, exigindo que saibamos nos desviar dos percalços da vida e superar as dificuldades. Os mais fracos ficam para trás e não conseguem essa superação.

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  8. Franklin

    Nietzsche é um cara polêmico. Sua forma de pensar vai fundo naquilo que investiga quase sem dar chance de defesa, mostrando a verdadeira face que está por baixo da máscara dos que influênciam o pensamento humano. Um bom blog!

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  9. Para Nietzsche a liberdade pressupõe o abandono da condição de escravo.È preciso torna-se senhor ,torna-se potência.E isso implica a adoção de novos valores:o amor ao distante ao invés do amor ao próximo,o orgulho substituindo a humildade entre outros.

    Por Bárbara Maria

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  10. Em sua genealógia parte de um contexto histórico fazendo uma análise de como se deu o processo pelo qual o homem vem passando, com respeito a questao de como agem os fracos e os fortes, os primeiros só conseguem achar-se forte se for por compaixão para ajudar os outros; enquanto os fortes não querem saber de compaixão, de humildade, mas de ser responsavél pro sua prória vida e por suas decisões. valeu pessoal o blog estar bem legal e didatico.

    Postado por: Aremir 07 de Dezembro de 2011

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  11. Nietzsche, retornado a uma concepção grega dualista, faz a apologia do dionisíaco, onde o homem forte é aquele que se liberta de qualquer pré-concepção moral e cria sua própria realidade em uma busca por si mesmo na realização de sua “vontade de poder”. Por um lado esta emancipação das convenções sociais e imposições dos dogmas religiosos parece interessante, criativa e desafiadora. Por outro lado a individualização fundamentada na “vontade de poder” parece também um risco por legitimar o direito da força e interesses particulares. Penso ser algo a que se deve ponderar.
    João Marcos

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  12. Nietzsche é um filósofo além de nosso tempo, pois defendeu uma metaética que considerando novos valores para uma ação político moral. Pois o homem em suas ações constroem e criam o meio em que vive, e nossas leis morais já não alcançam uma legitimação dos valores.

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  13. O Ideal ascético não deixa de ser um critica a religião e aos seus sacerdotes. Nietzsche faz uma critica ao modo como igreja induz as pessoas a escravidão. E para ele é necessário abandonar todo essa concepção.

    http://macintyr.blogspot.com/

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  14. Para Nietzsche os ascéticos nada mais são do que uma forma de tentar explicar as dúvidas que se passam na cabeça de homem, através do sofrimento, fraqueza, medo, para que assim se possa estabelecer uma separação entre os homens fracos e fortes.

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